terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Amplitudes

         Diz o grande treinador de bodybuilders profissionais Milos Sarcev: meio movimento, meio resultado. Mas por que seria assim? Quais são as vantagens em ser assim? Quais são as desvantagens de ser assim e quais são os problemas eventuais que podemos enfrentar por ser assim ou ao contrário?

       Nesse material em específico vou pegar grandes nomes emprestados como Milos Sarcev, Waldemar Guimaraes, Fernando Marques e Charles Glass, porque o que aprendi foi com o estudo do trabalho destes senhores, educadores físicos e treinadores por excelência, que gastaram anos de trabalho e treinamento, de seus alunos e seus próprios físicos, para desenvolverem a biomecânica do bodybuilding como ela é atualmente.
      Começando com o assunto , então por que amplitude é tão importante? Qual o lugar dela no treinamento do fisiculturista?
      Treinar em máxima amplitude é  trabalhar com o músculo em várias situações de torque, do máximo alongamento e mínimo torque, ao máximo encurtamento e máximo torque. Fazer desta forma privilegia o equilíbrio muscular, o trabalho dos antagonistas e sinergistas e a saúde do músculo, desde que respeitada a situação que o esportista o expõe: a posição de máxima amplitude também é a de maior risco de lesão muscular ou tendinosa, portanto, exercícios em grandes amplitudes são para treinar primariamente coordenação intermuscular, não força através de grandes cargas.

       Coordenação intermuscular é a capacidade neurológica aprendida e treinada de controle da musculatura de um segmento do corpo em realizar um movimento com o máximo aproveitamento da no tocante a transformação de energia potencial em energia cinética seguindo uma seqüência ou ordenamento de ativação muscular onde cada músculo contraia na sua faixa ótima de trabalho, obtendo-se assim um movimento de máxima energia cinética resultante desta contração. Ficou difícil? Imagine o seguinte então: um sujeito está fazendo supino.
       A contração do peitoral, deltoide anterior e tríceps se dá numa ordem tal que o peso sobe, e sobe equilibrado pelo trabalho da musculatura antagonista. Movimento perfeito, certo? Agora, imagine que o mesmo sujeito decide que, em vez de levantar o peso da melhor forma possível, vai utilizar primariamente o tríceps para tal trabalho. Ele pode até fazer tal mudança na finalidade de treinamento, mas se não se adequar à nova necessidade, o peitoral maior por ter uma força maior poderá, se utilizado da mesma forma que num supino tradicional, desequilibrar todo movimento. Quer outro exemplo? 


        O iniciante, quando está aprendendo a realizar supino ou qualquer outro exercício, treme inteiro e se contrai inteiro, isto porque, coordenação intermuscular também tem a ver com a nossa capacidade de relaxar o antagonista para poder realizar o movimento ideal e dessa forma treinar o músculo agonista adequadamente, como no caso de aprendermos, ou melhor, nosso córtex motor aprender, a relaxar o tríceps enquanto realizamos um exercício de flexão de cotovelo para treinar nosso bíceps. Sendo assim, máximas amplitudes são utilizados geralmente em exercícios básicos, realizados normalmente com pesos livres e em geral peso de trabalho adequado para se fazer o melhor movimento e não a maior carga. Você pode até me contestar dizendo que o fulano faz agachamento com impressionantes 250kg e realiza um movimento perfeito e que ele está fazendo pesado e que teoricamente pelo que você entendeu, ele deveria fazer este exercício leve… concordo contigo, mas o que vem a ser pesado para ele será que é o mesmo para você? Por isso que o treinador dele prescreve o treinamento dele com base nas cargas máximas dele… porque dessa forma leve ou pesado é algo objetivo, feito de acordo com a capacidade máxima do esportista. Assim, 250kg pode ser pesado para você, mas para o fulano pode ser 40% da carga máxima dele, o que teoricamente, para ele naquele determinado momento é leve, ainda que um dia não tenha sido da mesma forma que hoje não é para você… entendeu agora?


        Outra vertente fala da contração em espotes, que prega utilizar o músculo somente na amplitude de movimento em que ele realiza o maior trabalho. Veja o supino inclinado por exemplo: se você for pedir orientação ao professor Waldemar Guimarães ele vai lhe falar sobre o quanto atletas se arriscam a realizar supino livre e o quanto deveriam preferir maquinas articuladas convergentes pela sua segurança de trabalho, se for falar com o professor Fernando Marques, dependendo da sua capacidade e momento que você se encontra,  ele vai lhe colocar numa seqüência de variação biomecânica de 2 ou 3 exercícios em diferentes posições trabalhando a mesma musculatura em múltiplos ângulos oferecendo a você fadiga da mesma forma mas com um método diferente. Logo, não há uma regra, ou um certo-errado, faça-isso-faça-aquilo… tudo depende do momento em que você se encontra da sua performance física que define exatamente a sua capacidade atlética e portanto, as deficiências que precisam ser trabalhadas.
       Senhores, treinamento em essência, trata de desenvolver habilidades tanto quanto melhorar as que já possuímos e um erro muito comum, aí assim erro, é o esportista treinar apenas aquilo que ele gosta mais, e portanto, tem de melhor… daí vemos andando por aí homens-peito-e-biceps, mulheres-bunda e outros desequilíbrio dignos de orientação. Um corpo bacana é conquistado com adequações, desproporções agradáveis ao olhar definidas por um olhar técnico que seja capaz de orientar a você quais são suas deficiências e portanto refazer sua estratégia de treinamento. Não conheço ninguém que tenha ido muito longe treinando ABC, peito e bíceps na segunda e matando quarta- feira porque é “ombro-e-perna” com a velha explicação: ombro eu pego treinando peito e costas e perna não precisa porque eu sempre visto calças… cuidado… roupa no Brasil é diferente do resto do mundo: no Brasil, culturalmente a roupa é feita para destacar qualidades e não para esconder defeitos… pense nisso.

Voltando ao assunto treinamento:

       Estas técnicas avessas ao treino em amplitude máxima tendem a ser, de fato, mais seguras, desde que respeitados certos limites. O curioso é que são os mesmos limites dos treinos em amplitudes máximas: cuidado com o peso e a execução! Se por um lado trabalhar na amplitude máxima com carga vai te arriscar a uma lesão miotendinea, trabalhar na amplitude alvo com cargas exageradas vai lhe causar um aumento de pressão intra-articular, já que o peso suportado tende a aumentar, e a partir daí a diferença é que a estrutura a ser lesada muda de um tendão e um músculo para uma cartilagem e um ligamento.
        Assim, o recado final é: conheçam mais sobre os métodos de consistência da contração muscular, contração em deslizamento ou em “squeezing”, contração de pico, trabalho excêntrico, repetições forçadas e super slow… vocês vão entender que treino para fisiculturista é muito diferente de chacoalhar o esqueleto que diuturnamente observamos, com pesar, nas academias espalhadas por esse mundão afora…

Repensem seus conceitos e fiquem atentos!
Abraço com muita performance e muita saúde, claro…

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