Diz o
grande treinador de bodybuilders profissionais Milos Sarcev: meio movimento,
meio resultado. Mas por que seria assim? Quais são as vantagens em ser assim?
Quais são as desvantagens de ser assim e quais são os problemas eventuais que
podemos enfrentar por ser assim ou ao contrário?
Nesse material em específico vou pegar grandes nomes emprestados como Milos Sarcev,
Waldemar Guimaraes, Fernando Marques e Charles Glass, porque o que aprendi foi
com o estudo do trabalho destes senhores, educadores físicos e treinadores por
excelência, que gastaram anos de trabalho e treinamento, de seus alunos e seus
próprios físicos, para desenvolverem a biomecânica do bodybuilding como
ela é atualmente.
Começando
com o assunto , então por que amplitude é tão
importante? Qual o lugar dela no treinamento do fisiculturista?
Treinar
em máxima amplitude é trabalhar com o músculo em várias situações de
torque, do máximo alongamento e mínimo torque, ao máximo encurtamento e máximo
torque. Fazer desta forma privilegia o equilíbrio muscular, o trabalho dos
antagonistas e sinergistas e a saúde do músculo, desde que respeitada a
situação que o esportista o expõe: a posição de máxima amplitude também é a de
maior risco de lesão muscular ou tendinosa, portanto, exercícios em grandes
amplitudes são para treinar primariamente coordenação intermuscular, não força
através de grandes cargas.
Coordenação
intermuscular é a capacidade neurológica aprendida e treinada de controle da
musculatura de um segmento do corpo em realizar um movimento com o máximo
aproveitamento da no tocante a transformação de energia potencial em energia cinética seguindo uma seqüência ou ordenamento de ativação muscular onde cada
músculo contraia na sua faixa ótima de trabalho, obtendo-se assim um movimento
de máxima energia cinética resultante desta contração. Ficou difícil? Imagine o
seguinte então: um sujeito está fazendo supino.
A
contração do peitoral, deltoide anterior e tríceps se dá numa ordem tal que o
peso sobe, e sobe equilibrado pelo trabalho da musculatura antagonista.
Movimento perfeito, certo? Agora, imagine que o mesmo sujeito decide que, em
vez de levantar o peso da melhor forma possível, vai utilizar primariamente o
tríceps para tal trabalho. Ele pode até fazer tal mudança na finalidade de
treinamento, mas se não se adequar à nova necessidade, o peitoral maior por ter
uma força maior poderá, se utilizado da mesma forma que num supino tradicional,
desequilibrar todo movimento. Quer outro exemplo?
O
iniciante, quando está aprendendo a realizar supino ou qualquer outro
exercício, treme inteiro e se contrai inteiro, isto porque, coordenação
intermuscular também tem a ver com a nossa capacidade de relaxar o antagonista
para poder realizar o movimento ideal e dessa forma treinar o músculo agonista
adequadamente, como no caso de aprendermos, ou melhor, nosso córtex motor
aprender, a relaxar o tríceps enquanto realizamos um exercício de flexão de
cotovelo para treinar nosso bíceps. Sendo assim, máximas amplitudes são
utilizados geralmente em exercícios básicos, realizados normalmente com pesos
livres e em geral peso de trabalho adequado para se fazer o melhor movimento e
não a maior carga. Você pode até me contestar dizendo que o fulano faz
agachamento com impressionantes 250kg e realiza um movimento perfeito e que ele
está fazendo pesado e que teoricamente pelo que você entendeu, ele deveria
fazer este exercício leve… concordo contigo, mas o que vem a ser pesado para
ele será que é o mesmo para você? Por isso que o treinador dele prescreve o
treinamento dele com base nas cargas máximas dele… porque dessa forma leve ou
pesado é algo objetivo, feito de acordo com a capacidade máxima do esportista.
Assim, 250kg pode ser pesado para você, mas para o fulano pode ser 40% da
carga máxima dele, o que teoricamente, para ele naquele determinado momento é
leve, ainda que um dia não tenha sido da mesma forma que hoje não é para você…
entendeu agora?
Outra
vertente fala da contração em espotes, que prega utilizar o músculo somente na
amplitude de movimento em que ele realiza o maior trabalho. Veja o supino
inclinado por exemplo: se você for pedir orientação ao professor Waldemar
Guimarães ele vai lhe falar sobre o quanto atletas se arriscam a realizar
supino livre e o quanto deveriam preferir maquinas articuladas convergentes
pela sua segurança de trabalho, se for falar com o professor Fernando Marques,
dependendo da sua capacidade e momento que você se encontra, ele vai lhe
colocar numa seqüência de variação biomecânica de 2 ou 3 exercícios em
diferentes posições trabalhando a mesma musculatura em múltiplos ângulos
oferecendo a você fadiga da mesma forma mas com um método diferente. Logo, não
há uma regra, ou um certo-errado, faça-isso-faça-aquilo… tudo depende do
momento em que você se encontra da sua performance física que define exatamente
a sua capacidade atlética e portanto, as deficiências que precisam ser
trabalhadas.
Senhores,
treinamento em essência, trata de desenvolver habilidades tanto quanto melhorar
as que já possuímos e um erro muito comum, aí assim erro, é o esportista
treinar apenas aquilo que ele gosta mais, e portanto, tem de melhor… daí vemos
andando por aí homens-peito-e-biceps, mulheres-bunda e outros desequilíbrio
dignos de orientação. Um corpo bacana é conquistado com adequações,
desproporções agradáveis ao olhar definidas por um olhar técnico que seja capaz
de orientar a você quais são suas deficiências e portanto refazer sua
estratégia de treinamento. Não conheço ninguém que tenha ido muito longe
treinando ABC, peito e bíceps na segunda e matando quarta- feira porque é
“ombro-e-perna” com a velha explicação: ombro eu pego treinando peito e costas
e perna não precisa porque eu sempre visto calças… cuidado… roupa no Brasil é
diferente do resto do mundo: no Brasil, culturalmente a roupa é feita para
destacar qualidades e não para esconder defeitos… pense nisso.
Voltando ao assunto treinamento:
Estas
técnicas avessas ao treino em amplitude máxima tendem a ser, de fato, mais
seguras, desde que respeitados certos limites. O curioso é que são os mesmos
limites dos treinos em amplitudes máximas: cuidado com o peso e a execução! Se
por um lado trabalhar na amplitude máxima com carga vai te arriscar a uma lesão
miotendinea, trabalhar na amplitude alvo com cargas exageradas vai lhe causar
um aumento de pressão intra-articular, já que o peso suportado tende a aumentar,
e a partir daí a diferença é que a estrutura a ser lesada muda de um tendão e
um músculo para uma cartilagem e um ligamento.
Assim, o
recado final é: conheçam mais sobre os métodos de consistência da contração
muscular, contração em deslizamento ou em “squeezing”, contração de pico,
trabalho excêntrico, repetições forçadas e super slow… vocês vão entender que
treino para fisiculturista é muito diferente de chacoalhar o esqueleto que diuturnamente observamos, com pesar, nas academias espalhadas por esse mundão afora…
Repensem
seus conceitos e fiquem atentos!
Abraço
com muita performance e muita saúde, claro…
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