O que
será melhor para hipertrofia: uma dieta rica em carboidratos e proteínas ou uma
dieta rica em proteínas e moderada em carboidratos?
Ou ainda uma dieta rica em
gorduras, pobre em carboidratos e elevada em proteínas?
Ou uma dieta rica em
carboidratos, moderada em proteínas e baixa em gorduras?
Confuso,
não é mesmo?
Mas é
assim que a maioria dos praticantes de musculação que almejam a hipertrofia se
sente: completamente confusos! Ao ler um livro sobre uma dieta rica em
proteínas e pobre em carboidratos, acreditam ter encontrado a solução. Mas ao
ler outro livro sobre os benefícios da dieta rica em carboidratos e moderada em
proteínas, já mudam totalmente de ideia.
As
diretrizes nutricionais fornecidas pela literatura científica também nos deixam
com dúvidas, pois fornecem fórmulas básicas que teoricamente funcionariam para
todos os indivíduos, deixando a mais importante das considerações de lado: a
individualidade biológica.
Mas
afinal qual dieta é melhor?
A
resposta é mais simples do que parece. A melhor dieta é aquela que foi
elaborada especificamente para suas necessidades, considerando sua rotina de
treinamento, atividades diárias, além de considerar suas especificidades
genéticas e metabólicas. Ou seja, para alguns indivíduos, uma dieta rica em
carboidratos pode ser excelente, mas a mesma dieta para outros indivíduos pode
ser uma tragédia.
A questão é buscar a melhor dieta para cada tipo de pessoa.
Mas como
fazer isso?
Consultando-se
com um nutricionista esportivo experiente que consiga identificar qual o melhor
tipo de trabalho para você. O que posso garantir é que não existe receita de
bolo! Se seu parceiro de treino ou amigo de academia está tendo grandes
resultados com uma determinada dieta, muito provavelmente você não terá os
mesmos resultados simplesmente fazendo o mesmo trabalho.
Vamos
imaginar duas situações bem comuns na academia. Um indivíduo ectomorfo e um
indivíduo endomorfo. O ectomorfo apresenta grande dificuldade em ganhar massa
muscular e consequentemente grande facilidade em perder peso (tanto de gordura,
quanto de massa muscular). Para um indivíduo como este, com um metabolismo bem
acelerado, uma dieta rica em carboidratos é fundamental, pois se este nutriente
for ingerido de maneira insuficiente, a hipertrofia ficará comprometida.
Agora, um
indivíduo endomorfo é aquele que apresenta certa facilidade em ganhar massa
muscular, mas normalmente, esta é obtida em conjunto com um aumento
proporcional de gordura corporal. O resultado disto muitas vezes é o cidadão
ficar parecido com o boneco da Michelin, ou seja, com uma boa quantidade de
massa muscular, mas encoberta por uma bela camada de gordura. Um físico como
este com roupa pode até ser impressionante, mas na praia, o indivíduo endomorfo
será chamado de gordomorfo.
Acontece
que os endomorfos tendem a apresentar grande facilidade em converter
carboidratos em gordura corporal. Normalmente, quando um endomorfo ingere
carboidratos, o organismo libera insulina insuficientemente. Como resultado, os
músculos não recebem todos a glicose e aminoácidos que necessita. Portanto, o
pâncreas é obrigado a compensar este fator, liberando mais insulina. Porém,
altos níveis de insulina não são interessantes, visto que eles estimulam o
acúmulo de gordura corporal, dificultando a perda de gordura mesmo quando a
ingestão calórica é restrita. Resumindo, os endomorfos, ou qualquer pessoa que
apresente uma quantidade de gordura corporal elevada, liberam mais insulina do
que o normal.
Então
qual a solução para os endomorfos atingirem o melhor da forma física?
Fácil!
Controlar a ingestão de carboidratos para manter os níveis de insulina
estáveis!
Níveis
elevados de insulina também estimulam o apetite.
Quando se adere uma dieta
baixa em carboidratos, você proporciona a produção de cetonas. Estes são
produtos da oxidação de ácidos graxos, que podem ser utilizados como fonte
energética, protegendo a massa muscular de ser utilizada como energia. Além
disso, são supressores do apetite.
Quando os
carboidratos são reduzidos, o organismo utiliza grande quantidade de ácidos
graxos e proteínas como combustível, portanto, a ingestão proteica deveria ser
elevada. A ingestão extra de proteínas irá proteger a massa muscular de ser
utilizada como fonte energética. Alguns aminoácidos podem ser usados
diretamente no músculo como fonte de energia (BCAAS). Outros aminoácidos podem
ser convertidos em carboidratos (glicose) por meio de um processo chamado de
gliconeogênese.
Uma dieta
elevada em proteínas e controlada em carboidratos também estimula a queima de
gordura de outros modos. Quando consumimos uma refeição, o corpo gasta energia
para digerir, absorver e assimilar os nutrientes do alimento. Isto é conhecido
como efeito térmico dos alimentos. Carboidratos causam um efeito térmico
aproximado de 12%, enquanto a proteína pode estimular uma resposta de até 25%.
Uma dieta
rica em carboidratos estimula o sistema nervoso parassimpático que reduz o
metabolismo. Já as proteínas estimulam o metabolismo das células de
gorduras marrons, que são metabolicamente ativas. E ainda, evitando
carboidratos em excesso, especialmente os simples, o corpo produz uma maior
quantidade de lipoproteína lípase, que auxilia com que os ácidos graxos sejam
lançados na corrente sanguínea para serem usados como combustível.
Resumindo,
quando a ingestão de carboidratos é alta, a mobilização de ácidos graxos para
serem usados como fonte de energia é cessada. Já quando a ingestão de
carboidratos é baixa, o organismo passa a utilizar eficientemente os ácidos
graxos como fonte energética.
No
período em que o objetivo é hipertrofia, o indivíduo endomorfo deverá se
dedicar ao máximo para crescer com qualidade, não deixando os níveis de gordura
corporal aumentarem. De novo, isto só poderá ser obtido por meio do controle na
ingestão de carboidratos.
Recomenda-se nesta fase para estes indivíduos algo em
torno de 2 a 3 gramas de carboidratos por kg de peso corporal. A maneira de se
distribuir os carboidratos na dieta também é igualmente importante. Uma
sugestão seria manter 25% da ingestão desse nutriente na refeição número 1, 25%
na refeição pós-treino e os 50% restantes poderiam ser divididos em iguais
porções em todas as demais refeições do dia.
Já no
período em que se objetiva definição muscular, a ingestão de carboidratos
deveria ser ainda mais restrita. Normalmente trabalha-se com uma redução
inicial entre 15 e 25% da ingestão calórica (a base de carboidratos), sendo que
a ingestão protéica deveria ser mantida, visando manter o tecido magro. A
inclusão de aerobiose deve ser adicionada cuidadosamente, visto que esta em
excesso também proporcionaria perda de tecido magro. É consenso entre
bodybuilders de alto nível que o melhor momento para se realizar aerobiose, é
em jejum, mas isto seria assunto para outro artigo.
Nesta
etapa visando definição muscular, a ingestão de carboidratos poderia ser
fracionada em dois momentos específicos: na refeição número 1 e após a sessão
de treinamento. Quando existe pouco carboidrato na corrente sanguínea e os
estoques de glicogênio não estão saturados, a ingestão de carboidratos irá
primordialmente repor os estoques de glicogênio e elevar os baixos níveis de
glicose sanguínea. Portanto, não haverá riscos de armazenamento de gordura
corporal nestes dois momentos.
Uma
sugestão seria limitar a ingestão de carboidratos para em torno de 1 grama por
kg de peso corporal e manter a ingestão proteica para em torno de 4 gramas por
kg de peso corporal. Estes valores seriam mantidos por entre 3 e 5 dias
seguidos de um dia com uma redução para 2 gramas de proteína por kg de peso e
um aumento na ingestão de carboidratos para 4 gramas/kg. Após este dia, o
processo seria repetido.
Por que
aumentar a ingestão de carboidratos e reduzir a ingestão protéica em um dia?
Reduzir a
ingestão de carboidratos por muitos dias consecutivos pode proporcionar uma
redução no metabolismo. Reintroduzindo os carboidratos, conseguimos “burlar”
este mecanismo. Além disso, também proporcionamos um aumento nos níveis
temporários de glicogênio, o que apresenta um efeito anabólico, auxiliando na
manutenção da massa muscular.
A escolha
dos tipos de alimentos fonte de carboidratos é de fundamental importância.
Normalmente damos preferência para aveia, batata doce, arroz integral, macarrão
integral, cará e inhame. Deve-se ter atenção também com os legumes, pois alguns
apresentam uma quantidade considerável de carboidratos, que também deverá ser
computada. Imediatamente após a sessão de treinamento, a inclusão de
carboidratos simples é interessante visando potencializar a síntese de
glicogênio.
Quando a
ingestão de carboidratos é baixa, a inclusão de carne vermelha na dieta pode
ser interessante. Esta é rica em creatina, podendo contribuir para mais energia
durante a dieta. A carne vermelha também é rica em alanina, um aminoácido
não-essencial que é requerido na produção de glicose, quando os carboidratos
são insuficientes.
Indivíduos
endomorfos também apresentam uma grande facilidade em reter líquidos. Mais um
motivo para se aderir a uma dieta controlada em carboidratos, visto que uma
alimentação como esta apresenta um grande efeito diurético.
A
ingestão de 1 ou 2 colheres de sopa de triglicerídeos de cadeia média por dia
pode ser interessante neste período em que se objetiva definição muscular, pois
estes se convertem diretamente em cetonas e protegem a massa muscular e ainda
fornecem energia imediata (antes de uma sessão de treinamento, por exemplo).
Sempre
lembrando que independente do período, a ingestão de lipídios deveria ficar em
torno de 20% da ingestão calórica total. Esta quantidade é facilmente obtida
devido à presença de lipídios (mesmo que em pequena quantidade) nos alimentos
protéicos e com a inclusão de gorduras essenciais, tal como o ômega 3, que
dentre inúmeros benefícios, auxilia no processo de recuperação e aumenta a
sensibilidade à insulina dos receptores nos músculos.
Vimos
neste artigo mais uma vez a importância de se respeitar as características de
cada indivíduo. Uma dieta elaborada para um ectomorfo seria uma verdadeira
tragédia para um endomorfo, mesmo que os dois apresentem outras características
em comum, como idade, rotina de atividades diárias e rotina de treinamento.
Ficou claro portanto, a necessidade do acompanhamento individualizado por um
nutricionista esportivo experiente a fim de se atingir os objetivos almejados.
Próximo Post:você sabe quanto tem de massa magra e massa gorda?
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